quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Falando em férias...







Mas por que falar de férias, quando para a maioria das pessoas ainda faltam alguns meses para este esperado período?

Bem, porque “coincidentemente” retorno ao trabalho hoje, depois de alguns dias de férias. E também porque assim temos bastante tempo para refletir sobre o assunto.
Viajei com a minha família, acompanhado do cunhado e sua esposa (aliás, ótimas companhias). Escolhemos Pernambuco como destino, mais precisamente Porto de Galinhas, um lugar realmente extraordinário. Das muitas experiências e aprendizados que tivemos nesta viagem, certamente algumas ficarão mais presentes, como a valorização da família e dos laços de amizade, os novos amigos de várias partes do Brasil que conhecemos por lá, assim como suas histórias e as do povo que tão bem nos acolheu.
Por isso, não concordo com generalizações pejorativas com características e comportamento das pessoas de determinadas regiões, pois não podemos comparar como “melhor” ou “pior” culturas e percepções diferentes. Precisamos antes conhecer o contexto em que estão inseridas. Da mesma forma como nas empresas é preciso entender a cultura organizacional para compreender como e por que as coisas acontecem de determinada maneira, antes de criticar ou sair fazendo mudanças.



Pensemos: naquela região do país o dia amanhece e também anoitece mais cedo. O ano inteiro é de calor e tendo uma pintura divina como pano de fundo, como o céu e o mar, é capaz de deixar qualquer um em estado de maior relaxamento. Estar relaxado combina com tudo isso. Perder um pouco a noção do tempo e do "tudo pra ontem" certamente faz parte disso. Aprendemos que devemos respeitar estas culturas e não compará-las.
E o que vimos dos profissionais que nos receberam foram características de um povo alegre, paciente, tolerante, disponível, sereno e hospitaleiro. Num dos restaurantes em que estivemos (Peixe na Telha), por exemplo, ao chegarmos com nosso filho Bernardo, de 8 meses no colo, já dormindo, logo fomos levados para um lugar com menos vento e pouco barulho e prontamente o garçom providenciou uma esteira de praia e toalhas para acomodarmos e cobrirmos o nosso bebê. Francamente não lembro de muitos lugares com este tipo de proatividade e preocupação com o bem-estar do cliente.
Outra atitude interessante foi da camareira do hotel (Pontal de Ocaporã), que diariamente arrumava o quarto deixando “esculturas” feitas com o sobre-lençol e flores novas todas as manhãs. O mesmo tipo de comportamento aconteceu com os garçons do hotel, o mensageiro, os guias, os motoristas, as recepcionistas, os vendedores ambulantes ou das lojas, os taxistas, enfim, os profissionais com quem tivemos contato.
Alguns, ao ler este texto, dirão algo do gênero: “Mas, se eles vivem disso, com certeza tem que receber bem os turistas, pois são treinados para isso”. Pois bem, conheço muitas cidades turísticas onde o bom atendimento e a simpatia são “favores” que nos fazem e, mesmo com treinamentos técnicos ou comportamentais, não têm estas qualidades como características mais marcantes.
Realmente temos muito a aprender sobre como lidar nossos clientes, independente do segmento em que atuamos. Em uma rápida analogia, não seriam nossos pontos de vendas ou escritórios “cidades turísticas”, “praias”, “parques”, dentre outras lugares, esperando de braços abertos pela chegada dos “turistas” (nossos clientes, motivo pelo qual estamos aqui), que vêm para conhecer nossas “atrações” (produtos e serviços) e ter uma experiência inesquecível, recomendando para todos e indo embora já com desejo de voltar?
Será que tratamos nossos clientes como turistas, que precisam de informações de qualidade, respeito, simpatia e de nossa disponibilidade em servir?
Experimente conversar com uma pessoa daquela região, mesmo a mais desprovida de condições financeiras (representada pela maioria da população) ou com aqueles que diretamente não ganharão nada com você, que certamente encontrará um sorriso no rosto e uma alegria de viver que não se encontra em qualquer lugar.

Cada ser humano é um livro cheio de histórias e subestimar as pessoas é um erro que não podemos cometer. No penúltimo dia, conhecemos um artista que vendia paisagens coloridas da região esculpidas em uma casca de uma planta nativa. A sua desenvoltura, humildade e conhecimento sobre os mais diversos temas, assim como o seu respeito para conosco, seus potenciais clientes, nos deixou muito impressionados.
Mas um fato importante que também trouxe na bagagem é em relação ao comportamento dos turistas, ou seja, ao nosso comportamento como cliente. Em geral, os visitantes estão mais dispostos e felizes. Tudo é novo e fora da rotina. Assim, as pessoas são mais abertas e simpáticas umas com as outras, cumprimentam e se importam em saber seu nome, de onde vêm, ou um pouco de sua história.
Parece que deixamos os problemas em nossas cidades, para nos vestirmos deles quando voltarmos. Talvez por isso nos entristeça tanto o retorno. Não conheço a fórmula certa, nem mesmo sei se existe alguma, mas não seria interessante se encontrássemos um lugar, um endereço qualquer (de preferência um que até esqueçamos onde fica), longe do trabalho e de nossos lares, para que deixemos nossos problemas, frustrações e mágoas bem guardados e esquecidos. Então poderíamos viver com nossa melhor essência, assim como vivemos em nossas férias. Talvez, assim, não precisaríamos esperar tanto tempo para termos dias mais leves e lembranças que valham a pena deixar bem expostas em nossos porta-retratos e em nossa memória.

Pode parecer utopia, mas não custa absolutamente nada tentar. Ah, e não se trata de querer ver o copo meio cheio ou meio vazio. Trata-se apenas de ver água nele.



quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Férias: um direito ou um dever?






A palavra Férias  provém dos dias da semana do calendário elaborado pelo imperador romano Constantino, no século III d.C., que os nomeou “feria” com o sentido de comemoração religiosa: “Prima feria, Secunda feria, Tertia feria, Quarta feria, Quinta feria, Sexta feria e Septima feria”. No século IV, ainda por influência da Igreja, “prima feria” foi substituído por “Dominicus dies” (dia do Senhor) e “septima feria” transformou-se em “sabbatu”, dia em que os primeiros judeus cristãos se reuniam para orar. A língua portuguesa foi a única a manter a palavra “feira” nos nomes dos dias de semana.

A nossa legislação trabalhista estabelece um mínimo de 20 ou 30 dias consecutivos por ano de férias (um direito conquistado junto com outros direitos dos trabalhadores, após as greves operárias do início do século XX na luta por melhores condições de trabalho, salários e garantias trabalhistas). Antes disso trabalhávamos 12 meses por ano, 6 dias por semana e 12 horas por dia. Alguns países (acredite) ainda não têm férias, como na China, onde as empresas param 10 dias por ano (sendo que 4 destes dias são feriados nacionais), e ainda dividindo em 3 períodos.
Porém, para nossa sorte, não temos o mandarim como idioma oficial. No Brasil o trabalhador deve gozar as férias necessariamente entre 12 e 24 meses decorridos desde data da sua contratação, ou desde as últimas férias. O objetivo das férias é proporcionar um período de descanso. Sendo assim, o trabalhador não pode se privar das férias nem por vontade própria e deverá consumir no mínimo 1/3 do período, o que, diga-se de passagem, é tempo suficiente para “desacelerar” e “respirar” um pouco.
Mas, além de um direito, também deveríamos tratar este tema como um dever. Primeiro, para conosco. Posteriormente para nossa família e até mesmo nossa empresa (colegas, fornecedores, parceiros, etc.),  uma vez que tendemos a liberar a mente para um pensamento mais livre e criativo, renovando as energias, fazendo com que voltemos com mais foco e cheios de novas ideias e que, portanto, sejamos muito mais produtivos e com melhor relacionamento interpessoal.
Sendo assim, por que tantas pessoas ainda se orgulham em dizer que há anos não tiram férias?
Podemos elencar alguns motivos:
Síndrome da Onipresença
Se você tem medo de que as coisas não vão sair do jeito que sairiam caso estivesse presente, você está certo. Pode ser melhor ou pior, mas nunca igual, afinal, as pessoas são diferentes e não tomam as mesmas decisões ou agem com o mesmo grau de prioridade e velocidade que você. Passe a se preocupar apenas se não cuidou de ter ao seu redor as pessoas certas, capacitadas e preparadas para dar continuidade nas atividades e nos processos necessários durante a sua ausência. Daí a importância de delegar e desenvolver sucessores. Vale lembrar: se você for insubstituível, jamais conseguirá alcançar postos mais elevados e assim crescer profissionalmente. Cuidado com a armadilha da centralização!
Medo do retorno
Com certeza, seu e-mail vai estar cheio de coisas que vão roubar um grande tempo para colocar em ordem quando retornar, talvez com um agravante: muitas destas coisas já vão estar resolvidas quando estiver lendo. Uma dica é usar as ferramentas do Outlook, como aviso de ausência temporária para informar quem será o responsável enquanto estiver fora e criar regras para aqueles e-mails onde estiver apenas copiado irem direto para sua caixa de arquivamento. Assim não farão parte dos e-mails prioritários a serem lidos.
Mesmo não sendo o mais indicado, na prática, mesmo em férias, pode acontecer de você acompanhar alguns assuntos importantes e acabar se mantendo conectado, de acordo com o cargo que ocupa na empresa (quanto mais alto este for, mais difícil é se desligar totalmente). Porém, uma dica é ter um pequeno período para fazer isso e assim não comprometer seu merecido descanso. Todos precisam que esteja muito bem quando voltar. Desta forma, aquelas questões que não podem esperar e só podem ser decididos por você não estarão aguardando até a sua volta.
Medo de perder o emprego
“E se empresa descobrir que não faço falta e que uma pessoa que ganha menos pode fazer o mesmo trabalho?”; “E se entenderem que não sou tão bom quanto penso que sou?”. Este tipo de pensamento é mais comum do que parece, principalmente porque as empresas tem se estruturado de forma a fazer mais com menos, muitas vezes cortando cargos e acumulando funções. Desta forma, algumas podem entender que o colaborador que não tira férias é um profissional muito dedicado à empresa.
Você tem certeza de que tem se dedicado completamente a agregar o máximo a sua organização e feito o seu melhor? Se sim, isso não precisa ser uma preocupação. Se, pelo contrário, cada dia na empresa é apenas um dia a menos para o pagamento no fim do mês, a preocupação deveria ser com a permanência na empresa e não com as férias. Mas lembre-se, dedicar-se não significa necessariamente trabalhar mais, mas trabalhar bem. Peça feedback regularmente. Cada um de nós é responsável por sua carreira e desenvolvimento, e não a empresa.
Independente do motivo, deveria ser um consenso: as férias (desde que bem aproveitadas) nos tornam pessoas e profissionais muito melhores. E as empresas precisam de colaboradores assim.