segunda-feira, 25 de abril de 2011

Tem um minuto? Parte I


“Quando se vê, já são seis horas!
 Quando se vê, já é sexta-feira…
 Quando se vê, já terminou o ano…
 Quando se vê, perdemos o amor da nossa vida.
 Quando se vê, já passaram-se 50 anos!
 Agora é tarde demais para ser reprovado.
 Se me fosse dado, um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio."
                                                                      Mario Quintana




Às vezes você não tem a impressão de que o tempo anda passando muito depressa e que antes, nos “velhos tempos”, ele demorava mais a passar?

Esta pergunta, na verdade é relativamente fácil de responder e comum a todos nós. Acredito que todos temos a sensação de que estamos trabalhando um pouco a mais do que deveríamos. Mas será que existe, em curto prazo a perspectiva de mudança ou o trabalho tende a aumentar, ampliando nossa carga de stress, comprimindo o tempo e deixando-nos ainda mais com a sensação de que as horas estão encolhendo?

São muitas as distrações cotidianas que estão a nossa espreita em anúncios no rádio, televisão, carros de som, vendedores ambulantes, panfletos, o malabarista da esquina, o menor que pede um trocado no semáforo, o gentil rapaz que pede uma gorjeta pelo carro “bem cuidado”, os outdoors, os jornais e revistas expostas no jornaleiro, seus filhos e cônjuge, sua família e amigos, o “compre isso, compre aquilo”, “mas não é só isso, se ligar agora você ganha também...” , o “amanhã e só amanhã no...”

E no ambiente de trabalho temos diversas situações que denominamos “ladrões de tempo” ou “disperdiçadores”. Muitas delas existem por falta de método de trabalho e de priorizações.  Muitos são os disperdiçadores, como telefone, reuniões pouco objetivas, interrupções, comunicação deficiente etc. Um exemplo clássico é quando te abordam com a fatídica “Você tem um minuto?”, quando sabemos na prática que nunca é só um minuto, mas geralmente uma coleção deles, o que nos faz refletir posteriormente sobre nossa inveterada capacidade de aceitar muito mais do que podemos fazer realçado pelo medo de dizer “não”. Sem falar do bombardeio de informações, de perguntas e respostas que se multiplicam na caixa de um Outlook qualquer, preenchendo lacunas de um “Cc...” (Copiar a todos) e se proliferam gerando mais perguntas e mais respostas, nos mantendo presos a uma rede de soluções inesgotáveis para infindáveis problemas. Acabamos, então, nos sentindo culpados por não conseguirmos dedicar toda a atenção às pessoas que precisam ou merecem que as dediquemos este tempo (e com quem aprenderíamos muito).

Não é de se estranhar que a ansiedade esteja tão presente em nossas vidas. Esta, de mãos dadas com a sensação de não conseguirmos dar conta, nos desgasta e nos faz estender o horário de expediente para cumprir com as demandas e ainda assim chegar em casa já pensando nas coisas que ficaram pendentes, e em como poderemos resolvê-las no outro dia. Dia este que novamente chegará e com ele trará uma série de novas situações que exigirão nossa atenção. E nosso tempo. E neste círculo vicioso, gera-se stress, frustração, angústia e dúvidas, limitando nosso poder criativo.

Há alguns dias presenciei um diálogo assim:

- E então, você conseguiu se inscrever naquele curso promovido pela empresa sobre gestão do tempo?
- Não. Infelizmente não deu.
- Mas você não me disse que estava com muita dificuldade com isso?
- Sim, mas é que não deu tempo.

O que me questiono é se temos mesmo falta de tempo ou falta de foco. E quando falo de foco, refiro-me a tudo que sobra quando eliminamos o que não tem (tanta) importância.


 

Escutei certa vez uma ideia sobre a vitória à qual concordo plenamente. No exemplo, um lutador dizia que não ganhava a luta no ringue. Lá ele apenas era reconhecido. A vitória acontecia durante todos os anos em que se preparava para o combate. Por isso, acredito que fazer o que se gosta ou gostar do que se faz pode ajudar a nos manter focados no nosso projeto, pois  quem tem propósito e se prepara para isso, busca excelência constantemente em tudo o que faz e não tem tempo a perder com picuinhas e coisas pequenas, pois pensa grande e prioriza suas atividades, dedicando energia para aquilo que realmente importa e que trará resultados para todos os envolvidos.

Ao encontrarmos uma atividade que gostamos poderemos até mesmo trabalhar mais, mas com muito mais dedicação, motivação, afinco e paixão. Deste modo, acredito que a questão tempo não é um problema, mas um dilema. Problemas podem ser resolvidos. Dilemas, administrados. Com mais trabalho, mas com foco, diminuiremos a sensação de perda de tempo.

Quando deixamos qualquer coisa nos tirar do foco, corremos o risco que todas as coisas o façam.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Prece

Hoje à tarde assisti a palestra do Sérgio da Silva Almeida (www.sergiodasilvaalmeida.com.br), proporcionado por um parceiro comercial a toda sua equipe, onde apresentou seus cases vivenciais, sua trajetória, com foco em comportamento, relacionamento, atendimento e vendas. Uma palestra com muita riqueza, diga-se de passagem, com reflexões que apenas quem vê o mundo com olhos de empreendedor pode trazer.

Entretanto, um assunto que me chamou muito a atenção foi um depoimento de como um fato mudou sua vida em relação ao modo de se relacionar e de expressar seus sentimentos. Segundo ele, desde sua infância, por uma questão meramente cultural nunca mais havia beijado a face do pai ou dito a ele palavras de carinho. Porém, em 2006 um acontecimento marcou a sua vida: sua casa foi invadida por ladrões que o mantiveram sob a mira de revólveres por quase duas horas. Naquele momento, certamente sua vida passou na frente de seus olhos, mas nada era mais importante do que a sobrevivência de seu filho de onze anos, que estava com ele.

Chegaram a decidir que levariam a criança como refém e cobrariam o resgate, porém o pai, com inteligência emocional conseguiu manter a calma e argumentar para que levassem bens materiais mas não colocassem em risco a vida do menino. Por fim, os bandidos foram embora com diversos objetos e dias depois, curiosamente, atendendo ao seu pedido, deixaram na sua caixa de correspondência um CD com o conteúdo de seu livro que estava escrevendo havia sete anos.

Da palestra, além de uma série de informações, conhecimentos e análises comportamentais, algumas perguntas importantes (as quais normalmente não costumamos parar para pensar) deixadas no ar pelo palestrante ficaram nitidamente impregnadas na cabeça dos participantes:

Se você tivesse apenas alguns minutos de vida e pudesse fazer apenas uma ligação, para quem faria?
O que diria?
Há quanto tempo não faz isso?



Estas perguntas reverberam em nossa mente, em um momento em que nos deparamos, ainda incrédulos, com um episódio absolutamente desumano e inexplicável que foi a tragédia na escola do Rio de Janeiro. Este assunto tem sido amplamente debatido por praticamente todas as pessoas com quem tenho conversado, pois realmente chocou a todos nós.

Como telespectadores desta triste história real, resta-nos orar pelas vítimas, pelas demais crianças que presenciaram o fato e pelos familiares que não mais terão a alegria de verem seus filhos voltarem da escola. Sonhos e sorrisos perdidos.

Porém, como atores principais de nossas vidas e escolhas, cabe valorizarmos os que nos rodeiam e expressarmos nosso amor, carinho, gratidão e todo tipo de sentimento que fortaleça nossos laços, nossos vínculos, sem esperar que verdadeiros tsunamis aconteçam em nossas vidas para nos fazer enxergar o que sozinhos, muitas vezes não conseguimos ou que não queremos ver.

Alguns, como o empresário e palestrante, Sérgio Almeida, citado no início do texto, nasceram de novo após uma experiência traumática e passaram a encarar as relações de outra forma. Após o assalto em sua casa, ele viajou até a cidade onde mora seu pai, beijou seu rosto e disse o quanto o amava. E, a partir de então, passou a adotar esta atitude.

Muitos, porém, não tiveram e não terão essa oportunidade.