segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Um sorriso, um presente.

Minha nova experiência como pai mal começou e as mudanças são constantes e já fazem parte da rotina, como as noites mais longas que fazem os dias cobrarem implacavelmente o sono perdido.
É comum me perguntarem: “Tem conseguido dormir?”. A resposta, emprestada de uma amiga, faz todo o sentido: “noites mal dormidas, mas muito bem vividas...”
Independente disso – e convenhamos, nem todas as noites são de privação de sono – a maioria das mudanças tem sido positivas. Eu não canso de me surpreender com as pequenas coisas que acontecem, as mais simples possíveis, o que mostra que sempre temos muito a vivenciar e aprender.
Há alguns dias, por exemplo, aconteceu algo interessante e ao mesmo tempo muito emocionante: meu filho sorriu para mim, em reação a um gracejo desajeitado de um pai coruja. Sorriu.
Para tirar a prova dos nove, o provoquei e ele sorriu mais umas tantas vezes... O que me surpreendeu e emocionou foi o fato de este sorriso ter sido voluntário, pois até então todos os gestos e expressões eram intuitivos (segundo Charles Darwin, as crianças já nascem sabendo sorrir para interagir com a mãe e receber os cuidados necessários para sua sobrevivência).
Mas desta vez ele sorriu voluntariamente, genuinamente, apenas porque sentiu vontade de sorrir, sem nenhum constrangimento. Foi o suficiente para eu esquecer qualquer tipo problema e refletir sobre o quanto este gesto tão simples pode ser tão poderoso.
Então pensei em como o ato de sorrir anda cada vez mais distante das pessoas, principalmente no ambiente de trabalho, onde os prazos, o foco em resultado, busca de aumento de market share, a assertividade do forecast, as reuniões de braimstorming, a necessidadade follow up, dentre outros jargões corporativos com o qual convivemos, muitas vezes fazem com que os caminhos do relacionamento mudem para uma comunicação rápida e mais assertiva. Ou muitas vezes longas e intermináveis frases que não querem dizer nada, as famosas “evasivas” (acho que vou abordar este assunto em um próximo post).
Isso por si, já é contraditório, pois o mundo corporativo deveria ser sinônimo de comunicação, uma vez que entre nós, seres humanos, mamíferos de telencéfalo altamente desenvolvido e com polegar opositor, 93% da comunicação é não verbal. O sorriso é uma das formas de comunicação não-verbais mais importantes entre as pessoas porque passa uma mensagem positiva: “Gosto de você, aceito você”. Logo, ao sorrir, é mais provável que tenhamos aberto uma janela para que a recíproca seja verdadeira.
E aqui não há apenas uma questão social, mas alguns importantes componentes fisiológicos: usamos 14 músculos para sorrir e 72 para franzir a testa. Além disso, este simples ato libera endorfina, que é o hormônio da felicidade. Quando sorrimos também aumentamos nossa auto-estima, que se reflete em nosso ambiente profissional e se estende a nossas vidas fora do escritório.
Quantas vezes recebemos sorrisos com a boca, mas não com os olhos? Quantas vezes este ato chega até nós sem nenhuma expressão ou intensidade? Quantas vezes nem um sorriso sequer recebemos? Quantas vezes também agimos assim? Acho que vale a reflexão.
Enquanto escrevo este texto, estou em um quarto de hotel, em viagem de trabalho. E a imagem que não me sai da cabeça é de uma expressão que geralmente para nós não tem custo, não tem preço, mas tem muito valor: agora, dois sorrisos me esperam ao chegar em casa.
Muitas pessoas, no nosso dia-a-dia podem estar esperando o nosso também.